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sábado, 31 de agosto de 2013

Nordeste


Ação humana ameaça "pães de açúcar" nordestinos


Não há apenas um “Pão de Açúcar” no Brasil. A formação rochosa no Rio de Janeiro é a mais lembrada por ser um dos pontos turísticos mais visitados do País. Porém, estruturas como a do famoso cartão-postal estão presentes em diversos biomas nacionais. São encontradas do Norte da Amazônia ao Rio Grande do Sul e, com maior frequência, na Caatinga nordestina. O verdadeiro nome da formação é “afloramento rochoso”. Além de contribuir com a paisagem, é responsável por abrigar uma grande biodiversidade.
Pensando nisso, o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) analisou as vegetações rasteiras desses afloramentos em cidades do interior pernambucano, como Camocim de São Félix, São Caetano e Triunfo. O objetivo do estudo era constatar as formas de vida dessas estruturas vêm sofrendo por parte do homem. O projeto foi apoiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Durante o trabalho foram determinados a composição, a riqueza, a diversidade e os micro-habitats das espécies de briófitas em afloramentos rochosos. O grau de ameaça das espécies foi avaliado a partir do material coletado. Também foi feita a indicação de áreas prioritárias para sua a conservação.
Duas áreas destacaram-se como relevantes para conservação: o afloramento conhecido como Pico do Papagaio, na cidade de Triunfo (PE), e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Pedra do Cachorro, em São Caetano (PE). Os documentos sobre a avaliação dessas áreas serão enviados aos órgãos públicos locais.

Vida nos afloramentos
De acordo com Tatiany Oliveira da Silva, pesquisadora do Cepan, os organismos que vivem em afloramentos rochosos apresentam uma grande variedade de formas de vida, devido às condições adversas às quais estão submetidos.
A formação permite pouco acesso à água e à nutrientes e está sujeita à alta radiação solar, em virtude da altura. Dessa forma, essas estruturas são consideradas como ideais para pesquisas sobre questões de biodiversidade e biogeografia.
A vegetação da superfície rochosa é composta por briófitas, como os musgos, muito conhecidos por reter a umidade do solo e do ar. São seres indicadores da qualidade ambiental e bastante sensíveis a mudanças climáticas e variações no ambiente. Consideradas plantas pioneiras, são capazes de colonizar lugares desprotegidos e criar condições de vida para outros organismos.

Ameaça
A partir disso, Tatiany Oliveira da Silva conta que as briófitas podem estar utilizando os afloramentos rochosos da região como refúgio. Em regiões que sofreram degradação vegetal, as estruturas podem funcionar como ilhas ecológicas, nas quais as briófitas conseguem sobreviver. Ainda segundo a pesquisadora, a ação humana tem prejudicado as formas de vida nativas da Caatinga, inclusive as abrigadas nas formações rochosas.
"Essa região que estudamos vem sofrendo aceleradamente perda e degradação de habitats pela ação humana, o que é uma séria ameaça às briófitas, uma vez que a degradação reduz a qualidade do habitat e espécies sensíveis são perdidas. Além disso, no Nordeste, os afloramentos rochosos são explorados comercialmente para a produção paralelepípedos, pisos e revestimentos”, diz Silva.