Ação
humana ameaça "pães de açúcar" nordestinos
Não há apenas um “Pão de Açúcar” no
Brasil. A formação rochosa no Rio de Janeiro é a mais lembrada por ser um dos
pontos turísticos mais visitados do País. Porém, estruturas como a do famoso
cartão-postal estão presentes em diversos biomas nacionais. São encontradas do
Norte da Amazônia ao Rio Grande do Sul e, com maior frequência, na Caatinga
nordestina. O verdadeiro nome da formação é “afloramento rochoso”. Além de
contribuir com a paisagem, é responsável por abrigar uma grande biodiversidade.
Pensando nisso, o Centro de Pesquisas
Ambientais do Nordeste (Cepan) analisou as vegetações rasteiras desses
afloramentos em cidades do interior pernambucano, como Camocim de São Félix,
São Caetano e Triunfo. O objetivo do estudo era constatar as formas de vida dessas
estruturas vêm sofrendo por parte do homem. O projeto foi apoiado pela Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Durante o trabalho foram determinados a
composição, a riqueza, a diversidade e os micro-habitats das espécies de
briófitas em afloramentos rochosos. O grau de ameaça das espécies foi avaliado
a partir do material coletado. Também foi feita a indicação de áreas
prioritárias para sua a conservação.
Duas áreas destacaram-se como relevantes
para conservação: o afloramento conhecido como Pico do Papagaio, na cidade de
Triunfo (PE), e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Pedra do
Cachorro, em São Caetano (PE). Os documentos sobre a avaliação dessas áreas
serão enviados aos órgãos públicos locais.
Vida
nos afloramentos
De acordo com Tatiany Oliveira da Silva,
pesquisadora do Cepan, os organismos que vivem em afloramentos rochosos
apresentam uma grande variedade de formas de vida, devido às condições adversas
às quais estão submetidos.
A formação permite pouco acesso à água e
à nutrientes e está sujeita à alta radiação solar, em virtude da altura. Dessa
forma, essas estruturas são consideradas como ideais para pesquisas sobre
questões de biodiversidade e biogeografia.
A vegetação da superfície rochosa é
composta por briófitas, como os musgos, muito conhecidos por reter a umidade do
solo e do ar. São seres indicadores da qualidade ambiental e bastante sensíveis
a mudanças climáticas e variações no ambiente. Consideradas plantas pioneiras,
são capazes de colonizar lugares desprotegidos e criar condições de vida para
outros organismos.
Ameaça
A partir disso, Tatiany Oliveira da
Silva conta que as briófitas podem estar utilizando os afloramentos rochosos da
região como refúgio. Em regiões que sofreram degradação vegetal, as estruturas
podem funcionar como ilhas ecológicas, nas quais as briófitas conseguem
sobreviver. Ainda segundo a pesquisadora, a ação humana tem prejudicado as
formas de vida nativas da Caatinga, inclusive as abrigadas nas formações
rochosas.
"Essa região que estudamos vem sofrendo
aceleradamente perda e degradação de habitats pela ação humana, o que é uma
séria ameaça às briófitas, uma vez que a degradação reduz a qualidade do
habitat e espécies sensíveis são perdidas. Além disso, no Nordeste, os
afloramentos rochosos são explorados comercialmente para a produção
paralelepípedos, pisos e revestimentos”, diz Silva.
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